segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Nam June Paik e o grupo “Fluxus”


Não podemos dissociar a influência do grupo Fluxus sobre o «Pai da Arte Vídeo» Nam June Paik.
É George Maciunas que o convida em 1960 para se unir ao movimento Fluxus onde participa em numerosas acções e eventos tais como Étude de Pianoforte (1960).
Geralmente visto como o acontecimento fundador do movimento Fluxus, o Fluxus Festspiele Neuester Musik (Festival Fluxus de Música Nova) realizou-se em Wiesbaden, em 1962, com a participação de artistas como Dick Higgins, George Maciunas, Nam June Paik e Wolf Vostell.

Neste contexto o cruzamento interdisciplinar entre artes plásticas, literatura, música, dança e teatro, assim como uma intensa troca tradicional de ideias protagonizado pelo grupo Fluxus criou um vasto clima cultural em que as novas tecnologias eram usadas experimentalmente e testada a sua adequação à expressão artística.

Nas palavras de Georges Maciunas (que se dedicou ao fenómeno Fluxus como o seu coordenador-chefe de auto-estilo):

«A diversão-arte-Fluxus devia ser apenas entretenimento e nada exigente, devia tratar de coisas insignificantes, não devia exigir habilidades especiais e incontáveis ensaios, não devia ter nenhum valor comercial ou institucional.»

Assim, o Fluxus nunca pode ser reduzido a um denominador comum, devido, em grande parte, à elasticidade e obstinação dos seus protagonistas [...] à sua dimensão internacional e também à sua posição indeterminada entre as artes. (Arte do Séc.XX, vol. II; org. Ingo F. Walther, Tashen, Koln, 2005, p. 585).

Segundo consta Paik fez a primeira gravação com o seu «Portapack» durante uma viagem de táxi efectuada no dia 4 de Outubro de 1965, aquando da visita do Papa João Paulo VI a Nova Iorque. Enviou em seguida inúmeros panfletos a anunciar a projecção da fita no Café «Au Go Go». No mesmo declarava um futuro artístico brilhante para este meio:

«Da mesma forma que a colagem tornou obsoleta a pintura a óleo, também o tubo de raios catódicos irá substituir a tela.»
Nam June Paik.

O acesso á câmera de vídeo portátil e o seu conhecimento do cinema independente de vanguarda dos anos 60, assim como a influência de Jonas Mekas e da Anthology Film Archives possibilitaram que Paik começasse a criar um corpus fundamental de vídeos tais como Button Hapening (1965), Global Groove (1973) ou ainda Tribute to John Cage (1973) entre outros.

A partir de 1974, cria instalações multivídeo com TV. Posteriormente realiza a primeira transmissão ao vivo via satélite recolhida em vídeo – a Documenta 6, Satellite telecast (1977).

Por volta dos anos 80, “constrói” videoesculturas figurativas tais como a série Family of Robots e, por volta dos anos 90 continua a sua perpétua aposta no binómio arte/novas tecnologias e realiza obras em que combina laser e vídeo digital.

A estética do vídeo mudou muito desde 1965 (como veremos mais adiante neste blog) mas o verdadeiro legado de Paik assenta na constante ligação do seu trabalho entre artes visuais e novas tecnologias.

A sua morte em 2006, deixou mais pobre o panorama artístico internacional, contudo, podemos afirmar com certeza que o seu peculiar percurso artístico e obra marcaram e influenciaram numerosos artistas contemporâneos.

«Somos uma espécie de psicanalistas das massa.»
Paik, 1989.

Sílvia Vieira/Pedro Félix






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