Retomando o post com que a Rosa iniciou os debates no blog, gostaria de chamar a atenção para alguns aspectos relevantes que discutimos em aula. Reflectimos sobre a tecnologia moderna a partir da perspectiva do filósofo alemão Martin Heidegger no texto “A questão da técnica”, e entendemos o processo de Ge-stell no domínio televisual como sendo um processo que selecciona, captura, edita, armazena e veicula imagens que podem ser enquadradas e reenquadradas continuamente.
Se, no entanto, estendermos esta nossa análise para o domínio digital veremos que por meio da técnica, neste caso computadorizada e de natureza digital (isto é, processada por meio de algorítimos), teremos o mesmo processo repetindo-se continuamente. As informações que se encontram hoje armazenadas neste grande banco de dados global e virtual que é a Internet estão disponíveis e podem ser acessadas a qualquer momento. Uma vez seleccionadas, capturadas, editadas, armazenadas e veiculadas dão início a um processo contínuo de circulação da informação que são novamente consumidas por meio do processo de Ge-stell. Heidegger usa o termo Bestand (standing-reserve na tradução inglesa) para explicar que tudo no mundo, inclusive o homem, está disponível para ser ordenado e consumido por meio de Ge-stell. É como se Bestand fosse um grande estoque de reserva que está disponível para ser acessado.
No entanto, me parece importante ressaltar o que o filósofo destaca como uma particularidade deste processo. Para tentarmos compreender a essência da tecnologia, como bem pontuou a Rosa no seu post Heidegger e “A questão da técnica” 3, não podemos procurar em nada que seja tecnológico, a essência da tecnologia não está relacionada com algo que seja técnico.
Pelo facto de não ser tecnológica, a essência da tecnologia deve mostrar-se num campo em que o ocultamento e o desvelamento da aletheia emergem. Este campo, que se apresenta tanto semelhante quanto diferente desta essência, é o campo da arte, pois a tecnologia, ao mesmo tempo em que pode revelar, impede o desdobramento da poiesis.
Entretanto, o filósofo adverte que quanto mais se questiona a essência da tecnologia, mais misteriosa a arte se torna.
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1 comentário:
Holderlin, no limite da linguagem, que é a natureza própria da linguagem poética, é citado por Heidegger no seu ensaio. "Diz" Holderlin:
"Ora, onde mora o perigo
é lá que tambem cresce
o que salva"
Para Heidegger a essência da tecnologia como com-posição/Gestell, e o seu domínio no desencobrimento do real que emerge (nas imagens do televisual, que vemos e estão à nossa dis-posição quotidiana, por exemplo) e o seu domínio no desencobrimento do real que emerge como existência (temporal, quotidiana e responsável pelas mundividências particulares)arrasta consigo o desenraízamento do Homem (a opção da maiscúla é minha responsabilidade, mas considero-a, à luz deste século mais adequada, perdoem-me a imodéstia).
O que salvará? "(...)"Salvar" diz: chegar à essência, a fim de fazê-la aparecer em seu próprio brilho" (Heidegger, A questão da técnica", p.31) Então, necessariamente a essência da técnica contém em si a possibilidade de emergir aquilo que salva - a com-posição também des-encobre. O que é "curioso" é que Heidegger volta a "imergir" no limite da linguagem: a palavra como símbolo de união ao indizível: "Se olharmos dentro da essência ambígua da técnica, veremos uma constelação, o percurso do mistério" (Heidegger, "A questão da técnica", p.35)
A poesia é que salva, ela é o "último des-velo", mais uma vez Holderlin tem a chave: "...poeticamente
o homem habita esta terra"
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