terça-feira, 23 de dezembro de 2008

ARTE DIGITAL EM SUPORTES NÃO DIGITAIS - digital trash -

Os ready-made e os objets trouvés constituem, desde meados do século passado, um recurso e uma tendência artística nas orientações e nos critérios plásticos de algumas correntes vanguardistas contemporâneas.

Os alvores da época digital permitiram a criação e consequente utilização de novos materiais e equipamentos que, intrinsecamente ligados à informatização digital, possibilitaram aos artistas visuais, dos finais do séc. XX e dos primórdios do séc. XXI, um experimentalismo fundado na pesquisa e investigação plásticas desses novos materiais.

Fazendo parte dos despojos da civilização digital, circuitos impressos ou integrados, baterias, placas gráficas, de vídeo e TV, memórias RAM, shipsets, processadores, plugs de pinos, mouses, teclados, slots de memória, modems, discos rígidos, CDs e outros, permitem que alguns artistas contemporâneos abordem as capacidades estéticas inauditas destes equipamentos ou acessórios tecnológicos.

A própria representação pictórica destes materiais é também alvo de interessantes abordagens por parte de artistas estrangeiros e nacionais. Neste caso, Alexandre Cabrita,




Sandra Palhares e



Mário Pires Cordeiro



desenvolvem uma abordagem técnica tradicional - óleo sobre tela, colagem, ou impressão digital sobre litografias - onde aparecem, como elementos compositivos, materiais ligados à informática e/ou à era digital.

Mas é na utilização dos componentes de tecnologia digital que gostaria de centrar a minha abordagem. Daniela Ribeiro faz um reaproveitamento de materiais tecnológicos, desconstruindo-os, reconfigurando-os em novas formas, dando-lhes renovados e intrincados sentidos, que podem levar o observador a pensar a tecnologia de uma forma diferente. Demonstrando uma consciência da crescente preocupação global com o ambiente, a artista quis utilizar este lixo industrial como linguagem plástica mas também como forma de alerta para essa problemática.



Com Leonel Moura o emprego destas temáticas atinge uma nova dimensão. Escreve o artista: "Também os robôs, desde que dotados de autonomia e alguma inteligência, podem gerar uma expressão própria que pelas suas características devemos considerar como uma nova forma de arte independente daquela que é produzida pelo artista humano que esteve na origem do processo. Ou seja, a inteligência artificial pode gerar uma criatividade artificial. Neste sentido esta criatividade artificial produzida por robôs questiona não só as noções correntes de arte e cultura, como o próprio conceito e lugar do humano. Já que pela primeira vez somos confrontados com a possibilidade, muito real, de darmos origem a seres com capacidades similares ou mesmo superior às nossas". In www.lxxl.pt (10/12/08).


Aludindo só a artistas portugueses, este texto constitui uma amostra preliminar de um trabalho de investigação mais abrangente. Alguns artistas consagram posições sensíveis com as tecnologias, pois percebem que as relações do homem com o mundo não são mais as mesmas depois da revolução informática que nos coloca a todos diante do numérico, da inteligência artificial, da realidade virtual, da robótica e de outros inventos que vêm irrompendo no cenário da contemporaneidade.

Pedro Leal Filipe
10/12/08


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