domingo, 26 de abril de 2009

Fotografar com latas e caixotes

Hoje, 26 de Abril de 2009, é o Dia Mundial da Fotografia Pinhole. A fotografia pinhole, à letra, feita «pelo buraco da agulha», foi inventada há mais de 400 anos e continua na moda, tendo milhares de adeptos em todo o mundo, amadores e profissionais, que a utilizam como forma de arte.
À semelhança do que acontece desde 2001, no último domingo do mês de Abril, os entusiastas deste tipo de fotografia entregaram-se hoje, uma vez mais, à captação de imagens, que já podem ser consultadas na Internet, no sítio www.pinholeday.org, que também disponibiliza os arquivos dos anos anteriores. Só no ano passado, 2628 fotógrafos (37 portugueses) de 62 países, expuseram assim os seus trabalhos! Este ano, e a esta hora, já podem ser vistas 334 fotografias; 3 delas, a cores, são de portugueses: uma de Pedro Gil, intitulada «Sunrise in Lisboa», outra de Mindaugas Kiaupas, intitulada «tired» e outra de Gimez, intitulada «African shades».
A técnica pinhole não é nova: os primeiros escritos sobre o princípio fotográfico subjacente datam do século V a. C., e a primeira câmara pinhole, ou estenopeica – como também se designa, foi desenhada em 1545. Uma caixa ou lata de vinho, perfume, cigarrilhas, CDs ou óculos, uma tampa de iogurte pintada de preto, um íman, a parte metálica de uma disquete, um alfinete e papel fotográfico podem ser os materiais de uma câmara estenopeica, que dispensa qualquer lente ou instrumento óptico: «os raios de luz reflectidos a partir de um objecto passam através de um orifício e projectam essa imagem, mas invertida, no lado oposto» (afinal, o princípio básico da fotografia).
A revista Sábado, n.º 260, de 23 a 29 de Abril de 2009, que me serve de referência para este post, apresenta nas páginas 96-97 um texto que explica o conceito pinhole, o princípio fotográfico subjacente, como construir e utilizar uma câmara pinhole e os custos associados; esse texto é acompanhado por imagens de câmaras pinhole e de fotografias tiradas com estas câmaras, por António Campos Leal, de 57 anos, antigo repórter fotográfico e professor do Instituto Português de Fotografia.
Todas as fotografias, a preto e branco, apresentam uma legenda onde se indica o local fotografado, a máquina utilizada, o tempo de exposição e um comentário breve da responsabilidade do fotógrafo e fundador do Clube de Fotografia Buraco de Agulha (galeria e outros conteúdos em www.pinhole.no.sapo.pt).
«Estas câmaras [pinhole] permitem captar imagens completamente diferentes das que captamos com máquinas convencionais. A profundidade de campo é infinita, a definição dos objectos que estão mais próximos da câmara é igual à dos que estão longe e, como o movimento não é congelado, as manchas da imagem são mais sedutoras», explica A. C. Leal, para quem paciência (os tempos de exposição são elevados: uns 20 segundos com sol, mas de 20 minutos a várias horas dentro de casa; por outro lado, sem fotómetro, uma tentativa pode não bastar), lixo e acesso à Internet (para aprender a revelar) são os requisitos para tirar boas fotografias pinhole a custo quase zero.

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